
Semana de Bordeaux Primeurs 2011
Se você gosta de vinho o melhor lugar no planeta para se estar na primeira semana de abril é Bordeaux! Durante três dias a Union des Grand Crus de Bordeaux promove a apresentação dos vinhos da safra do ano anterior para profissionais e imprensa.
Menos de um mês depois de voltar do Brasil para apresentar a safra 2009, no Rio e em São Paulo, a Union des Grand Crus de Bordeaux (UGCB), organiza seu mais importante evento do ano: a apresentação dos seus vinhos Primeurs 2011. Este ano mais de 5000 profissionais vindos do mundo inteiro passaram pela região para avaliar a safra.
O sistema de Primeurs é uma herança da presença inglesa na região (durante 300 anos, a Aquitania pertenceu à Inglaterra, até 1453). O nome Primeur faz referência ao primeiro mês da fermentação do mosto das uvas e esse sistema consiste, basicamente, em vender o produto no “mercado futuro”, ou seja, antes mesmo de estar pronto. Ainda na barrica, o vinho é avaliado, precificado e vendido.
Este sistema é baseado na trilogia Château-Corretor-Negociante. O corretor (courtier) intermedia as compra de quotas (alocações) entre os grandes Châteaux e os Negociantes da “Praça de Bordeaux”. Apesar da cadeia de intermediários entre o produtor e o consumidor final parecer longa e complicada, ela se mostra muito eficiente em termos de resultados comerciais – os grandes rótulos de Bordeaux são vendidos no mundo inteiro e os preços foram multiplicados muitas e muitas vezes ao longo dos anos.
E é justamente no processo de avaliação que a semana de Primeurs tem o seu principal objetivo. O evento faz com que os formadores de opinião do mundo inteiro só falem de uma coisa: A safra Bordeaux 2011 – uma maneira bastante eficaz de monopolizar a atenção e construir a imagem para, então, valorizar o produto.
A semana de Primeurs é uma grande operação de publicidade na qual sete Châteaux (dos 135 associados) acolhem com muita elegância e sofisticação os visitantes para as degustações de uma ou mais apelações, que acontecem entre 9h30 e 18h00. Este ano as apelações foram dividas entre os seguintes Châteaux:
- Château de Fieuzal : Graves, Pessac-Léognan
- Château de Camensac : Moulis, Listrac, Haut-Médoc, Médoc
- Château Marquis de Terme : Margaux
- Château Lagrange : Saint-Julien, Pauillac, Saint-Estèphe
- Château Soutard : Saint-Emilion
- Château Beauregard : Pomerol
- Château Kirwan : Sauternes, Barsac
Você deve se organizar bem para conseguir visitar os sete, pois dependendo do roteiro escolhido, a distância pode ser de até 60 km entre um e outro.
É claro que um evento como este não podia deixar de ser amplamente prestigiado. Michel BETANNE, Thierry DESSEAUVE, James SUCKLING, James MOLESWORTH (WS), Adam LECHMERE (DecanterMagazine), Michel ROLLAND e todos os grandes críticos do mundo estavam presentes, à exceção de Robert PARKER, que não frequenta mais o evento (tem seus privilégios adquiridos). Dezenas de nacionalidades se encontraram: ingleses, belgas, alemães, americanos e japoneses em profusão, porém, nada chama mais a atenção do que a quantidade de chineses no evento. A falta do Brasil foi sentida; os organizadores notaram uma baixa sensível na presença de profissionais brasileiros em 2012.
Mas afinal, como é a safra de Bordeaux 2011?
Para os tintos, o ano de 2011 foi definido por todos os viticultores (chef de culture) e winemakers (metre de chais) como um ano particularmente “complicado” e muito “técnico”. Um verão fora de época no inicio do mês de maio expôs a vinha a um forte estresse hídrico, que colocou em risco todo o desenvolvimento vegetativo das plantas. Como se não bastasse, o verão foi úmido e com pouca luminosidade (exatamente no momento em que o sol era fundamental), obrigando a um forte trabalho de “defolhagem” e um maior sacrifício dos cachos mais fracos (vendanges en vert), para que os mais fortes pudessem se desenvolver plenamente. Depois de tanto sacrifício para as vinhas, boas temperaturas e insolação adequada chegaram ao final do mês de setembro e fizeram com que, ao final, as uvas atingissem bons níveis de maturação e açúcar.
Para os brancos secos de Graves e Pessac-Léognan a situação foi bastante parecida, porém, devido a umidade nos meses de julho e agosto, período próximo ao da colheita, um alto índice de podridão cinza comprometeu boa parte da produção e, mais uma vez, obrigou a um esforço redobrado de seleção cachos saudáveis, e o descarte de cachos comprometidos, antes e durante a colheita. Mas a qualidade obtida com as sucessivas triagens resultou em belíssimos vinhos brancos secos.
Os brancos licorosos de Sauternes e Barsac estão quase sempre na contramão dos vinhos secos de Bordeaux. O cuidado e o trabalho na vinha durante a primavera e o verão foram os mesmos dos outros, porém, o calor e luminosidade dos meses de setembro, outubro e mesmo no início de novembro, proporcionaram um perfeito aparecimento do Botrytis (a podridão nobre), e uma muito boa maturação, com acidez e licorosidade muito equilibrados. Resultado, uma safra de Sauternes excelente.
A unanimidade entre os bordoleses é que, depois de 2009 e 2010 – millesimes de superlativos e que demandou pouco trabalho dos produtores – 2011 será uma safra com menos exuberância, mas de muito bons resultados.
“O que nós aprendemos foi a nos adaptar a climatologia, ou seja, trabalhar o vinhedo para responder aos efeitos climatológicos, mesmo quando estes não são favoráveis. Entretanto, não poderemos nunca desconsiderar os efeitos do clima; eles sempre existirão e são muito fortes”explica o enólogo mais famoso do mundo, Michel ROLLAND. E continua, “Há 30 anos, não saberíamos como responder aos efeitos desfavoráveis de um ano complicado do ponto de vista climatológico. Teríamos produzido demais e não teríamos feito toda a preparação do vinhedo como devido, ou seja, defolhagem, triagem, seleção. A parcelização, nós nem sabíamos o que era… Então teríamos colocado tudo na cuba de fermentação, misturado tudo e, então, diríamos: é uma safra medíocre! Em 2011, graças a este novo conceito, de que tudo isso é muito mais conceitual do que técnico, nós soubemos responder a uma climatologia desfavorável”, resumindo o que todos os outros winemakers dizem a respeito de 2011.
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