
Bordeaux Primeurs 2011 : Margaux no Château Marquis de Terme
Margaux é a maior entre seis apelações comunais do Médoc (Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien, Moulis-en-Médoc, Listrac-Médoc e Margaux), mas contraditoriamente, não se limita a uma só municipalidade, e se estende sobre cinco comunas: Margaux, Soussans, Arsac, Labarde e Cantenac.
Os vinhos de Margaux estão entre os mais desejados do mundo, talvez por sua frequente associação a uma feminilidade – volúpia, delicadeza, charme, sutileza… são alguns adjetivos repetidamente utilizados para descrever um Margaux – ou simplesmente porque são extraordinários. O fato é que os Margaux tem realmente algo de especial.
Pra começar, é a apelação que mais possui Grand Crus Classés, 21 no total; mesmo sendo o Cabernet Sauvignon a casta dominante, em geral, a proporção de Merlot é bem maior do que a dos seus vizinhos; e, durante a semana de Primeurs, organizada pela Union des Grands Crus de Bordeaux (UGCB), foi a única das apelações comunais do Médoc que se apresentou sozinha: uma exclusiva degustação de vinhos de Margaux.
E foi no Château Marquis de Terme que foi organizado o disputado evento (6000 pessoas), na recém-reinaugurada sala de recepções, anexa aos chais (a sala de barricas). Uma calorosa acolhida, embalada por um quinteto de jazz, e um serviço de bufê, resultado de muita preparação (o ponto alto do cardápio era um vitelo, cozido lentamente durante vinte horas) e de muita atenção por parte de toda a equipe. Uma grande festa!
Château Marquis de Terme é uma propriedade familiar, que se estende sobre 38 hectares, cuja história se inicia em 1762, quando Mademoiselle LEDOULX d’EMPLET aporta a propriedade como dote de casamento a um certo François de PÉGUILHAN, o Marquis de Terme. Logo depois, a revolução francesa “implodiria” o cadastro vitícola da região, e os proprietários se sucederiam. Uma família, entretanto marca a história deste Château: os FEUILLERAT. Durante mais de cento e vinte anos construíram a reputação de Marquis de Terme, porém, com os desdobramentos da crise financeira de 1929, Armand FEUILLERAT se vê obrigado a vender a propriedade em 1935, que é adquirida por Pierre SÉNÉCLAUZE, pai de Pierre-Louis e de Philippe SÉNÉCLAUZE, os atuais proprietários.
“A partir de 2009 percebemos uma grande progressão de Marquis de Terme. Porque a família decidiu ser mais ativa na propriedade, porque tivemos vontade de estarmos mais presentes e, porque uma nova geração estava chegando, da qual eu faço parte com meus primos. Estamos tentando modernizar nossos vinhos e nossa propriedade”, diz Julia SÉNÉCLAUZE, a filha de Pierre-Louis, responsável pela comunicação do Château.
Quando perguntada de sua visão de vinhos modernos, Julia explica: “Nós queremos que nosso vinho mantenha a tipicidade de Margaux, não queremos mudar o estilo, mas queremos fazer vinhos que sejam prontos para beber mais jovens. Queremos ir na direção do consumidor. Hoje, o consumidor não quer esperar 15 anos antes de degustar sua garrafa de Grand Cru, essa espera hoje esta em torno de seis, sete… oito anos. Queremos fazer vinhos que sejam bebíveis mais jovens, mas que guardem o grande potencial de guarda de um Grand Cru.”
Mas afinal, como é a safra 2011 em Margaux?
Enigmática! Apesar da ambição da família SÉNÉCLAUZE de fazer vinhos mais modernos, a tipicidade é dominante em Margaux. 2011 é uma safra de personalidade forte, MUITO difícil de julgar a este estado.
Os vinhos foram passados das cubas de fermentação para os barris há seis meses (a maioria ainda vai continuar por mais um ano) e esta é a magia de Margaux. Em seu nascimento, são vinhos austeros, quase brutos, e é o processo de maturação nos barris (élevage en fût) por quatorze, dezesseis e até dezoito meses, que traz um aporte aromático e faz com que o vinho exprima todo o seu potencial – lapidando as arestas, até transformá-lo em uma verdadeira jóia.
LISTA DOS CHÂTEAUX PARTICIPANTES
propriedade | apelação | |
---|---|---|
1 | Château Angludet | Margaux |
2 | Château Brane - Cantenac | Margaux |
3 | Château Cantenac Brown | Margaux |
4 | Château Dauzac | Margaux |
5 | Château Desmirail | Margaux |
6 | Château du Tertre | Margaux |
7 | Château Ferrière | Margaux |
8 | Château Giscours | Margaux |
9 | Château Kirwan | Margaux |
10 | Château Labégorce | Margaux |
11 | Château Lascombes | Margaux |
12 | Château Malescot Saint-Exupéry | Margaux |
13 | Château Marquis de Terme | Margaux |
14 | Château Monbrison | Margaux |
15 | Château Prieuré - Lichine | Margaux |
16 | Château Rauzan - Gassies | Margaux |
17 | Château Rauzan - Ségla | Margaux |
18 | Château Siran | Margaux |
Os destaques da degustação:
Château Rauzan-Ségla – Deuxième Grand Cru Classé – A classificação imperial de 1855 coloca Rauzan-Ségla no topo da lista dos segundos Grand Cru Classé, logo atrás do Mouton Rothschild (isso mesmo, originalmente o místico Mouton era um segundo, a mudança só veio em 1973). Hoje, o Château é mais umas das estrelas da constelação CHANEL. O grupo de luxo que produz o N°5 decidiu investir em outros tipos de garrafas e, em 1994, adquiriu a propriedade.
O Château Rauzan-Ségla comemorou, em 2011, seu 350°aniversário e, para marcar a data e a safra excepcional de 2009 (que foi engarrafa neste ano), criou um rótulo desenhado por ninguém menos que Karl LAGERFELD (diretor artístico da maison CHANEL). O fato irônico é que LAGERFELD, depois de seu regime (iniciado em 2000, quando perdeu 46 kg), só bebe coca light (que pena pra ele!).
2011 foi uma bela safra para Rauzan-Ségla. Apesar do baixo rendimento do vinhedo (27 hl/ha) devido ao regime climático desfavorável, produziu um grande Margaux. Uma grande densidade e concentração, ele enche o paladar de sabores de frutas maduras.
Château Kirwan – Troisième Grand Cru Classé – Kirwan é o primeiro dos Troisième Grand Cru Classé de 1855. Thomas Jefferson (que foi embaixador Americano na França, antes de se tornar Presidente), durante suas aventuras nos vinhedos de Bordeaux em 1787, faz uma vibrante homenagem: qualifica o Château “Quirouen” de segunda ‘categoria’ em seu célebre livro ‘Jefferson on wines’.
“Millésime de contrastes e de surpresas! Uma primavera muito quente fez com que o verão chegasse antes da hora e nos fez esperar pelo pior. Mas a partir de 19 de setembro, o clima quente que se instalou até o fim do mês permitiu uma perfeita maturação dos Cabernet Sauvignon, com níveis nunca vistos antes. O Merlot foi colhido entre 12 e 16 de setembro, o Petit Verdot e o Cabernet Franc entre 20 e 24 e, finalmente, o Cabernet Sauvignon entre 26 e 29.”, descreve com muita franqueza sua aflição de 2011, Sophie SCHŸLER THIERRY, diretora de desenvolvimento e comunicação de Kirwan.
O medo no início da vindima desapareceu, e deu lugar a uma esperança real de uma bela safra: “pela primeira vez na história do Château, o potencial de álcool do Cabernet Sauvignon (em média de 14%) é superior ao do Merlot (13% em média) e a maturação dos taninos também foi completa”, conta entusiasmada Sophie, e justifica: “o prolongamento da colheita, feita ao longo de três semanas, permitiu colher cada parcela em condições ideais”.
A assemblagem de Kirwan foi feita no mês de novembro com 55% de Cabernet Sauvignon, 21 % de Merlot, 15 % de Cabernet Franc e 9 % Petit Verdot. O Cabernet Sauvignon maduro traz uma estrutura elegante e densa, de taninos harmoniosos, indicando uma grande complexidade aromática de especiarias e frutas.
Château Giscours – Troisième Grand Cru Classé – Por trás desta garrafa mística, muita história. Inicialmente um forte defensivo, o local possuía uma torre que dominava a paisagem de um região ainda selvagem e inóspita. Em 1552, o rico comerciante bordolês Pierre de LHOMM, compra a casa dos nobres de « GUYSCOUTZ », e constitui o vinhedo.
Em 2011 Giscours também produziu belíssimos Cabernet Sauvignon, e utilizou esta uva a 75% em sua assemblagem. O resultado é um Margaux de um grande “classicismo”, de cor púrpura impressionantemente escura, de perfumes florais, de taninos bem presentes, porém finos. Um vinho de grande pureza.
Château Boyd-Cantenac – Troisième Grand Cru Classé – Uma estrela ascendente, Boyd-Cantenac se afirma cada vez mais no terreno dos grandes. Os Boyd eram uma poderosa família negociante de lã em Belfast (Irlanda do Norte). Com a decadência do negócio, deixam a ilha e se assentam em Bordeaux, adquirindo o vinhedo de Cantenac em 1754.
Boyd-Cantenac 2011, mesmo ainda austero, já seduz pela textura mas, principalmente, por sua grande permanência na boca.
Château Marquis de Terme – Quatrième Grand Cru Classé – Nossos anfitriões também merecem destaque.
“Excelente!”, define sua safra 2011 Julien BRAHMI, o simpaticíssimo maitre de chais (winamaker) do Château Marquis de Terme, e justifica: “Fizemos todo o possível para que 2011 fosse brilhante, depois de 2009 e 2010. Mesmo que tenha sido complicado em virtude da climatologia, da maturidade das uvas… fomos muito vigilantes e conseguimos fazer algo MUITO bom, a partir de baixos rendimentos (25-26 hl/ha), o que para nós corresponde à metade da colheita, mas a qualidade das uvas veio acima de tudo”. E completa: “Depois de 09 e 10, seus irmãos mais velhos, 2011 não vai fazer feio!”.
Mesmo depois de enfrentar duas chuvas de granizo, entre outras dificuldades impostas pelas condições climáticas extremas durante a safra 2011, Marquis de Terme consegue confirmar a tendência positiva de uma evolução qualitativa deste Château. Com taninos sem asperezas, e generoso em frutas maduras, é um vinho que promete.
Os Margaux 2011 são difíceis de degustar e, mais difícil ainda, é a tarefa de julgá-los neste estado de evolução, portanto, tudo dentro da normalidade. A pouca dispersão qualitativa entre os vinhos da apelação indica que, mais uma vez, apesar das adversidades climáticas, 2011 é um bom ano em Margaux.
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Tags:Bordeaux, Château Boyd-Cantenac, Château Giscours, Château Kirwan, Château Marquis de Terme, Château Rauzan-Ségla, França, Grand Cru Classés, Margaux, Primeurs 2011, UGCB, vinho
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