Bordeaux Primeurs 2011: Saint-Julien, Pauillac e Saint-Estèphe no Château Lagrange

O Château Lagrange acolheu os profissionais para a apresentação das apelações Saint-Julien, Pauillac e Saint-Estèphe (algumas das mais prestigiosas de Bordeaux). Nenhum esforço foi poupado para que os visitantes pudessem degustar os vinhos nas melhores condições, a começar pela sala das barricas (chais) que foi parcialmente liberada e coberta por carpete vermelho para se transformar em espaço de degustação, e de um impecável restaurante onde a refeição foi servida. No entanto, apesar do espaço previsto, essa concentração de châteaux místicos fez com que o evento fosse muito concorrido (para se ter uma idéia, entre 3500 e 4000 profissionais visitaram o Chatêau Lagrange e aproximadamente 1500 refeições foram servidas durante os três dias de evento) o que causou certo “congestionamento” de visitantes.

“É verdade que temos aqui, hoje, o ‘crème de la crème’, mas somos uma grande propriedade com 120 hectares de vinhedos em Saint-Julient e acostumados a organizar estes grandes eventos” , explica Bruno EYNARD, diretor geral do Château Lagrange, sobre as dificuldades de organizar um evento desse porte. “Este é um período muito importante para nós. Após os desafios técnicos da vindima, agora temos o desafio econômico e, ao mesmo tempo, a questão da promoção já que este evento nos permite mostrar aos profissionais do mundo inteiro a nossa propriedade e a nossa competência. Um grande Château como o Lagrange deve ser como uma escuderia de Fórmula1 – tudo deve ser perfeito. A qualidade do nosso vinho deve também ser encontrada nos eventos que organizamos.”, completa nosso anfitrião.

Durante este extraordinário evento, algumas constatações foram bastante óbvias. Os vinhos apresentados podem ser divididos em duas categorias: de um lado, os vinhos que já apresentam uma maturidade e “maciez” muito agradáveis, em que os taninos são quase redondos, mesmo considerando que ainda vão ficar por mais um ano em barrica (élevage). De outro lado, estão os vinhos clássicos de guarda, em que os taninos são bem pronunciados, a sensação de adstringência é marcante e a degustação, nesse estado, difícil.

Para a maioria trata-se de uma escolha claramente assumida, a de fazer vinhos que sejam acessiveis em um curto espaço de tempo, em detrimento do potencial de guarda. Para outros, trata-se puramente das circunstancias da millésime. É a batalha, quase ideológica, entre uma abordagem “moderna” de vinhos de consumo contra os métodos tradicionais de produzir vinhos de guarda em terroirs muito raros que permitem produzi-los.

Fato é: o efeito gerado pelos vinhos mais “maduros” é muito forte, gerando um importante impacto na opinião dos degustadores, que em nenhum momento desqualificam o potencial, no longo prazo, dos vinhos de mais difícil acesso ao paladar.

Da perspectiva das apelações, a degustação demonstra que 2011 foi uma safra onde os Saint-Julien se apresentam, a esta altura, de uma forma sublime. Os Pauillac guardam toda a raça e o pedigree, mas não apresentam a exuberância dos dois anos anteriores. Entre os Saint-Estèphe, pouco representados no evento já que a maior parte decidiu receber os profissionais em seus próprios Châteaux – o ano em questão não demonstra o extraordinário potencial desta bela apelação.

Lista dos Châteaux participantes

PropriedadeApelação
1Château BeychevelleSaint-Julien
2Château Branaire-DucruSaint-Julien
3Château GloriaSaint-Julien
4Château Gruaud LaroseSaint-Julien
5Château LagrangeSaint-Julien
6Château Langoa BartonSaint-Julien
7Château Léoville BartonSaint-Julien
8Château Léoville PoyferréSaint-Julien
9Château Château Saint-PierreSaint-Julien
10Château TalbotSaint-Julien
11Château BatailleyPauillac
12Château Clerc MilonPauillac
13Château Croizet-BagesPauillac
14Château d’ArmailhacPauillac
15Château Grand-Puy DucassePauillac
16Château Grand-Puy-LacostePauillac
17Château Haut-BagesLibéralPauillac
18Château Lynch-BagesPauillac
19Château Lynch-MoussasPauillac
20Château Pichon-LonguevillePauillac
21Château Pichon Longueville ComtessePauillac
22Château Cos LaborySaint-Estèphe
23Château de PezSaint-Estèphe
24Château Lafon-RochetSaint-Estèphe
25Château Ormes De PezSaint-Estèphe
26Château Phélan SégurSaint-Estèphe

Os destaques da degustação:

Château Léoville Poyferré – Saint-Julien – Deuxième Grand Cru Classé 1855 – O domínio de Léoville formava, até século XIX, um dos mais vastos e mais antigos crus do Medoc. Estendia-se do vinhedo do Château Beychevelle até o Château Latour em Pauillac quando, então, foi dividido em três partes:

  • Château Léoville Las Cases
  • Château Léoville Barton e
  • Château Léoville Poyferré

O Château Léoville Poyferré nasce em 1840, quando a filha do Marquês Las Cases se casa com o Barão Jean-Marie de Poyferré de Cère levando, assim, sua parte do grande vinhedo Léoville.

Sobre o ano de 2011, Didier THOMAN, winemaker (maitre de chais) de Léoville Poyferré, nos explica:  “Foi o que chamamos de uma safra de ‘vinificador’ e quer dizer que a uva não traz tudo por si só; é necessário saber decidir as boas datas de colheita, dosar bem as extrações, fazer a triagem – este ano requereu muita triagem e, finalmente, uma vinificação bem racionalizada”.

A regularidade do Château Léoville Poyferré sempre aumenta a expectativa em torno da apelação Saint-Julien. Sem dúvida, era o maior destaque da degustação.

 

Château LAGRANGE – Saint-Julien – Troisième Grand Cru Classé 1855 – Além da acolhida extraordinária, a equipe do Château LAGRANGE também produziu um excelente 2011. “Uma safra precoce. Começamos a colheita dos Merlot no dia 21 de setembro e terminamos entre os últimos da apelação, no dia 5 de outubro. O Merlot requereu uma reação rápida, mas que ao final, resultou em um rendimento normal de 50 hectolitros/hectare. Isso feito, pudemos esperar serenamente pela perfeita maturação dos Cabernets e Petit-Verdots”, descreve Stéphane LEBOUCHER, maitre de chais de Lagrange. Por fim, ele complementa: “2011 é uma millésime precoce e, em geral, precocidade implica em qualidade”.

Os dois primeiros do pódium têm muito em comum. Além de pertencerem à mesma apelação, Stéphane LEBOUCHER chegou há dois anos no Château Lagrange, vindo exatamente da equipe do Léoville Poyferré.

 

 

Château Gruaud Larose – Saint-Julien – Deuxième Grand Cru Classé 1855 – O terceiro Saint-Julien de nossa lista, tem uma dupla vantagem: além de ser extremamente acessível ao paladar, quase aveludado, estava representado pela brasileira  Maisa MANSION, responsável pelo enoturismo do Château.

Esta belíssima propriedade do Medoc sempre se apresenta como uma das melhores relações qualidade/preço entre os Grand Cru Classés.

 

 

Chateau Pichon-Longueville – Pauillac – Deuxième Grand Cru Classé 1855 – O mais lindo Château parece que guardou para si todas as qualidades: Um rótulo místico; na mais prestigiosa apelação; formado por uma equipe super simpática; que produz um vinho excepcional!

“É verdade que os últimos dois anos, 2009 e 2010 são anos excepcionais, históricos. Eu acho que 2010, por exemplo, trouxe o melhor vinho que Pichon Baron já produziu em toda a sua história. Então, depois de dois anos assim, não fica fácil para os vinhos de 2011. Mas se pudermos esquecer os dois anos anteriores, temos que admitir que 2011 é muito bom. Eu gosto muito dos vinhos deste ano, têm um grande frescor, muito equilíbrio. São vinhos delicados mas com um grande estrutura tânica; de taninos muito finos”, explica Christian SEELY – diretor geral do grupo AXA Millésime (grupo proprietário do Château).

Christian, que é britânico, faz questão de nos falar em português (lusitano) que aprendeu ao longo dos sete anos que passou no Douro, produzindo vinhos do Porto na Quinta do Noval – que também pertence ao grupo AXA.

“Para mim é um ano excelente! Tenho certeza de que vai dar muito prazer aos consumidores de Grand Crus durante muitos anos”, resume Christian.

 

Château Phélan Ségur – Saint-Estèphe – Mesmo não sendo um Grand Cru, sempre se destaca na paisagem da apelação por sua qualidade.

Alain COCULET, que foi maitre de chais durante dezoito anos de Phélan Ségur, acha que esta dispersão entre os Saint-Estèphe é normal: “Quando eu degusto Cos d’Estournel, que é um super second Grand Cru Classé, ou Montrose, que também é um super second Grand Cru Classé, eu tenho dois vinhos completamente diferentes de duas propriedades que se tocam”. Segundo Alain, o conceito de tipicidade não vem da apelação; a tipicidade de um vinho é dada pela propriedade.

“É necessário fazer a distinção entre qualidade e estilo. O estilo é ligado às pessoas que fazem o vinho, enquanto a qualidade é produto do terroir e da climatologia”. O debate proposto por Alain é absolutamente interessante, entretanto, a quantidade de parâmetros envolvidos pode fazer com que os vinhos de Bordeaux se transformem em um quebra-cabeça para o consumidor.

Entre as mesas de degustação ouvias-se algumas vezes que, em 2011, as análises das uvas conduziram alguns dos Châteaux ao erro. Todos os parâmetros: álcool, ph, etc, alcançavam os mesmos de 2010 e, a partir daquelas análises, decidiam iniciar a colheita. Quem provava as uvas, porém, percebia que apesar das análises positivas, estas ainda não haviam atingido plena maturação fisiológica.

O consumidor vai poder escolher sua linha ideológica entre os “vinhos modernos” ou “mais tradicionais”. Neste estado do processo, entretanto, a constatação é de que os vinhos ditos “modernos” estavam muito mais interessantes.

Fotos do almoço oferecido no Château Lagrange:

MAIS FOTOS DO FACEBOOK DE RENDEZVOUS

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.403090189701353.99782.401534799856892&type=3

Tags:, , , , , , , ,

Rastrear do seu site.