Degas e o Nú: Exposição temporaria no Museu d’Orsay

Escrito por RENDEZVOUS em 24 de abril de 2012. Publicado em Artigo, Uncategorized

Nada mais apropriado para abrir a coluna cultural de RENDEZVOUS, que a exposição de Degas no Museu d’Orsay, onde grande parte é dedicada sua representação de bordeis e de prostitutas! ;)

Até agora quando pensávamos em Degas, o que vinha imediatamente a mente era os bastidores da Opera de Paris, a dança, o movimento… e a pequena bailarina de quatorze anos (provavelmente sua obra mais conhecida). Mas o que se ignora é que, durante toda sua vida, um quarto de suas obras foi sobre o nú. Esculturas, desenhos a carvão, pastel, pinturas… foi uma busca, uma obsessão, que começa ainda muito cedo na vida do artista. Mais do que as bailarinas, os cavalos de corrida, as cenas urbanas ou os retratos, que o levaram a celebridade, o nú foi o gênero pelo qual Degas inovou e fez evoluir seu estilo durante mais de cinqüenta anos.

Uma magnífica exposição organizada pelo Museu d’Orsay e pelo Museum of Fine Arts de Boston, está totalmente dedicada a Edgard DEGAS (1834-1917), grande mestre da pintura da segunda metade do século XIX, admirado por Bonnard, Matisse e Picasso.

“Uma retrospectiva completa de sua obra, que permite compreender como Degas passa, no início clássico de formação acadêmica, de um jovem artista de sua época, até o grande mestre que vai inspirar as novas gerações de vanguarda do início do século XX”, define o jovem Xavier REY, curador do Museu d’Orsay.

Nenhum outro artista de sua época demonstra uma tão grande evolução técnica e plástica, ao longo de sua carreira, quanto Degas, e por isso mesmo a exposição propõe um percurso cronológico, mostrando o desenvolvimento do artista em torno do tema da nudez feminina.

“Para facilitar a leitura, a configuração escolhida foi cronológica, porém, ao longo do percurso, nós tomamos todo o cuidado de organizar ângulos e perspectivas que permitem perceber que as formas esquemáticas se devem aos mestres que influenciaram Degas. A magia da obra de Degas é que, ao reagruparmos, compreendemos certos aspectos de sua obra que, nesse caso, é a correspondência entre todas as técnicas que ele utilizou: a escultura, o pastel, o carvão… e alguma coisa acontece quando todas estas obras estão reunidas – o que é extremamente raro! – porque depois da venda do ateliê em 1918, as obras foram dispersas pelo mundo” explica apaixonadamente Xavier.

Outra sofisticação de Xavier, e das equipes dos dois museus organizadores, foi de inserir na exposição artistas que influenciaram Degas, e os que ele influenciou: “nós desejamos, neste percurso cronológico, incluir alguns exemplos de outros artistas para mostrar, ao longo das diferentes etapas da carreira de Degas, os artistas que o influenciaram: Ingres, Delacroix, Puvis de Chavannes. Além disso, artistas que trabalharam o nú ao mesmo tempo em que ele – e isso é muito interessante porque foi principalmente Renoir – e, ao final, desejamos ‘confrontar’, algumas obras da nova geração (ainda no período em que era vivo) – Bonnard, Matisse e Picasso – coroando a busca de Degas, ao final de sua carreira, no início do século XX”.

O olhar de Degas nos coloca na situação do voyeur. Mulheres nuas, quase sempre de costas – uma predileção pela nuca feminina – sem rostos; sem jamais expor as modelos. No seu ateliê parisiense, Degas faz um entra-e-sai de suas ‘modelos’. Fez até mesmo seu pequeno museu pessoal, com o único tema (quase obsessivo): a sua visão de um bordel de sua época.

“Um aspecto um pouco ‘perturbador’ na obra de Degas em relação ao nú, é esta etapa do monotipo do bordel. É como se ele tivesse necessidade de romper com o nú acadêmico e, na metade dos anos 70 (do século XIX) ele se lança numa série de representações, muito cruas, do mundo da prostituição. Nunca numa ótica de exposição, mas que vai lhe permitir evoluir em direção ao nú contemporâneo, que o leva a obras extremamente complexas, na qual há esta visão sobre o que era a prostituição em sua época. Há também certa compaixão pela prostituta, mas, sobretudo, uma execução incrível de obras tão pequenas quanto um cartão postal”, explica o curador da exposição.

O grande paradoxo é que Degas, solteiro toda sua vida, era conhecido por seu desprezo (e mesmo ódio) ao sexo feminino. Seu comportamento era justificado pelo pavor que tinha da sífilis, doença que matou muitos dos artistas de sua época, mas sua misoginia não condiz em nada com o interesse pelo corpo feminino. Sua obra se aproxima muito mais da criança que descobre, fascinado e curioso, o universo feminino através do buraco da fechadura. O fato é que Edgar DEGAS  foi o artista do século XIX que mais representou a mulher.

Se tiver oportunidade, não deixe de visitar a belíssima exposição temporária Degas et le nu, no Museu d’Orsay em Paris, até o dia 1°de julho.

Tags:Bonnard, bordeis, Degas, Degas e o Nú, Edgard DEGAS, Matisse, Mulheres nuas, Museu d’Orsay, Picasso