HIGHLANDER quebra todos os recordes no Grande Leilão dos Hospices de Beaune

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Christophe LAMBERT foi o padrinho da 155ª edição do Grande Leilão dos Hospices de Beaune. Inicialmente sua participação se destinava a angariar fundos para duas instituições de pesquisa, o Instituto Marie CURIE (para a pesquisa da imunoterapia para a cura câncer), e A Fundação de Pesquisa do AVC (para financiar um estudo sobre as razões do avanço de casos de AVC em mulheres jovens). Mas os trágicos eventos ocorridos na sexta-feira 13 de novembro, em Paris, as vésperas do leilão caritativo, fez com que parte do dinheiro angariado fosse encaminhado para as vítimas dos atentados.

O Highlander bateu seu martelo, depois de atropelar todos os recordes das 154 edições anteriores. O lance vencedor foi de 480 Mil euros por 228 litros de Corton Renardes Grand Cru, festejado com aplausos de toda a plateia. A compradora, que deu seu lance por telefone, pediu para não ser identificada, mas que fosse informado apenas que é francesa e que seu gesto é em solidariedade às vítimas dos atentados de Paris. No ano passado, a peça do presidente – como é chamada a barrica que é oferecida a instituições de caridade – havia atingido 220.000 euros.

O Evento é um dos mais interessantes no mundo para quem ama vinho, mas inútil querer conhecer a opinião de Christophe LAMBERTsobre a safra 2015 de Borgonha. Aos 58 anos, um dos primeiros franceses a alcançar o sucesso em Hollywood, foi um homem de excessos. LAMBERT já abordou publicamente seu problema de alcoolismo, e contou que nos últimos 15 anos já teve uma dezena de recaídas, mas que hoje está muito bem, e sem nenhum contato com álcool.

Amável e muito carismático, Christophe LAMBERT é hoje um homem diminuído, de fala pausada e voz extremamente rouca, que pouco lembra o jovem Tarzan do filme que o consagrou em 1984. Mas suas convicções não estão longe das de um herói e, cigarro na mão, LAMBERT nos faz um resumo da sexta-feira 13 em Paris:

“Sexta-feira houve uma onda de atentados terroristas em Paris, feita por homens com cintos explosivos, armados com fuzis, armas de guerra! Simplesmente, que atiravam sobre a multidão, que tomaram uma sala de espetáculos, onde eles mataram mais de 80 pessoas, feriram, 60, 70, uma centena… E em seguida eles tomaram reféns. Portanto foi um choque, e é um choque a cada vez que algo assim ocorre. Porque, que isso aconteça aqui na França, que isso aconteça na Inglaterra, ou que isso aconteça em qualquer país do mundo, é um choque. E é um choque que deve nos provar que devemos ser solidários e que nos mantenhamos unidos, porque se há uma desunificação no mundo, estamos TODOS perdidos. Por isso é absolutamente necessário que sejamos unidos, é necessário que juntos combatamos esta forma terrível de terrorismo. Porque o terrorismo evoluiu, os terroristas não estão mais defendendo um valor, quer seja político, religioso … Eles querem apenas matar. Isso é completamente desprovido de sentido, pois a partir do momento que as coisas não têm mais uma mensagem poderosa, elas não têm razão de existir. E eu acredito que não é na guerra, não é na matança, não é no massacre que vamos encontrar uma solução. Por isso é importantíssimo que nos mobilizemos para que tudo isso cesse. ”

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Filho de franceses, nascido em Nova York, Christophe LAMBERT passou sua infância na Suíça. Uma história muito comum a outros filhos de funcionários das Nações Unidas, mas tudo começa a mudar quando ele decide fazer teatro. O ator que encarnou o rei das selvas no cinema, conta com muita modéstia sua carreira:

“Minha carreira aconteceu bem naturalmente. Ou seja, eu fiz duas escolas de teatro, e depois eu fiz alguns castings, e tive a sorte de ter sido escolhido para um grande filme americano que foi Greystoke [A Lenda de Tarzan, o Rei da selva ], que foi meu primeiro grande filme, e depois eu naveguei entre a França, os Estados Unidos, a Itália, a Alemanha… vários países do mundo. O que eu continuo fazendo hoje em dia, e eu também faço muitas outras coisas também. O que me permitiu fazer muitas escalas, ao Brasil: No Rio, em São Paulo… e eu tive a sorte de poder subir o Amazonas, fui do Rio a Manaus, ou descer, não sei como devemos dizer. E isto foi uma jornada extraordinária, pois foi a primeira vez na minha vida que eu entendi, que se eu me perdesse nesta selva amazônica…é realmente um lugar onde: ou possuímos faculdades excepcionais para poder sobreviver, ou se morre. Pois há uma tal força da água, da selva, da fauna e da flora. Que a menos que sejamos combatentes, possuir um instinto muito forte, se torna impossível: rapidamente você desiste e sucumbe. A gente não é nada comparado a estas forças da natureza.”

Mas você é o Tarzan?

“Isso é cinema! E mesmo se eu já me confrontei com algumas situações na selva, tudo isso é cinema.

Não quero com isso destruir a fantasia, mas tudo isto é o lado do sonho que o cinema proporciona. Mas se na realidade, eu me encontrasse perdido na selva amazônica, eu acho que seria bem mais difícil.”

O filme do cineasta australiano Russell MULCAHY fez com que o personagem Connor MacLeod, interpretado por Christophe LAMBERT se tornasse personagem da cultura pop brasileira. Higlander faz parte do vocabulário nacional, da mesma forma MacGyver ou o capitão Nascimento são nomes de personagens utilizados para definir características fortes.

“Tenho um pouco de consciência [do sucesso de Highlander], mas eu prefiro não pensar muito nisso. Eu fiz este filme porque para mim era um filme romântico, mais que um filme de ação. A partir do momento que tratamos da imortalidade, é algo romântico. Porque o diretor, visualmente, era um revolucionário. Trata-se de alguém, que mesmo hoje em dia, visualmente, não se acomoda. Não existe ninguém que filme como Russell Mulcahy, ainda nos dias de hoje. Talvez o filme tenha envelhecido, em termos de efeitos visuais, mas não na sua estória, e nem na sua maneira de filmar esta estória. Por isso é excepcional, pois o filme atravessou três gerações. A música do Queen! Quem pode reproduzir algo assim? Ninguém mais pode. Não é com estas músicas, quem podem ser boas, mas parecem músicas de supermercado, músicas de elevador. Não se faz mais filmes com as músicas como do Queen hoje em dia. Poderia haver com músicas do U2, do Led Zeppelin ou do Doors, mas modificaram este sistema musical, para fazer um sistema puramente lucrativo, ao invés de simplesmente criar músicas. Quero dizer na média, claro que existem exceções.”

Sobre seus novos projetos, LAMBERT está por cima neste momento, em sua carreira marcada por altos e baixos, em 2015 pode ser visto em 3 grandes produções:

“Acabo de terminar um filme de Claude LELOUCH [o renomado diretor foi o primeiro francês a ser premiado pelo Oscar, em 1967 seu filme ‘Un homme et une femme’ levou duas estatuetas: melhor filme estrangeiro e melhor roteiro], com Jean DUJARDIN, que ganhou o Oscar por ‘The Artist’. Eu fiz, uma parte, do Filme dos irmãos COEN, que se chama ‘Hail, Caesar!’, mas se trata de uma parte, um pequeno papel, muitas vinhetas de 2/3 minutos para os atores que vieram por um , ou dois dias. Mas se os irmãos COEN me pedissem para ir, apenas para abrir uma porta, eu iria. E eu estou muito contente de participar deste filme. E depois eu fiz um outro filme americano que se chama ‘Ten Days in a Mad-House’ sobre a vida da primeira jornalista de investigação, que se chama Nellie BLY, e que acaba de ser lançado nos Estados Unidos, e aparentemente é um sucesso.”

Sem largar seu cigarro, o ídolo de toda uma geração, não se despediu sem dizer em bom português: OBRIGADO!

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